O Japão é aqui !
Escutando: Rodrigo Campos: «Conversas com Toshiro» O Japão é aqui !
…E Rodrigo Campos continua sua peregrinação.Após sua cidade natal, São Paulo, e seus arredores, sua viagem fantástica àBahia onde ele se estabeleceu por um tempo (que não tinha nada do “fantástico”dos cartões postais de Salvador, mas, sim, o reverso da medalha), eis, então,que ele dá um enorme passo rumo ao Japão….[…]
Rodrigo Campos (José de Holanda)
Não, Rodrigo não ficou imerso na terrado sol nascente durante algumas semanas para nos contar sua experiência, masele quer, simplesmente, nos transmitir o Japão com o olhar fascinado que tem sobre ele, coma sensação que ele lhe causa, através do cinema, de certos personagensemblemáticos ou míticos, que vão de atores tão diversos quanto Toshiro Mifune(1920-1997) – conhecido por seus papéis de samurai nos filmes de Akira Kurosawa(16 filmes)- até a atriz pornô, Katsumi, passando pelos cineastas Takeshi Kitano, ouYasujiro (1903-1963).
Contrariamente aos seus dois últimosálbuns, se trata, então, de um país que ele imagina, que o fascina (talvez) atravésda sua cultura – sem que ele tenha vivido por lá. (é verdade que, muitas vezes,um país nunca é tão fascinante quanto na nossa imaginação).
E, na verdade, dos três discos deRodrigo, «Conversas com Toshiro» se revela como aquele onde o solnasce e ilumina musicalmente o álbum com uma orquestração excepcional, sem, noentanto, mudar os músicos que, normalmente, o acompanham.
A presença feminina das divas Ná Ozzetti e Juçara Marçal – cujas modulações não têm segredos -,traz uma graciosidade e uma sensualidade que torna o álbum mais colorido e maisdelicado do que os dois primeiros discos do Passo Torto, grupo do qual só falta aquiKiko Dinucci, mas que evita as tentações dos famosos arpejos dissonantes quedominam o som, quando os dois músicos tocam juntos.
Juçara Marçal, Rodrigo Campos, Romulo Fróes (foto Daniel Achedjian)
Ná Ozzetti (photo Daniel Achedjian)
Em compensação, encontramos MarceloCabral (baixo), Curumin (bateria), Ná e Juçara, que se adaptam, todos, àsharmonias e ritmos mais orientais, não para os puristas, mas que ressoam noimaginário de Campos, também produtor musical do disco.
Sobre os 13 títulos, encontramosinclusive dois sambas: Chihiro (Campos) e o mais minimalista Dono daBateria (Rômulo Fróes/Nuno Ramos), e até mesmo o que chamaria um “asiático/ samba”, Mar do Japão(Campos), que mistura elementos das duas regiões.
Acompanhado por outros instrumentistasque formam uma orquestra, às vezes, épica (violinos, violoncelo, Hamond,diversos tipos de trombones e trompetes), “Conversas com Toshiro” é leve edenso ao mesmo tempo, surpreende e é encabeçado na direção artística por Romulo Fróes,que, com o já citado Dono da bateria que fecha o álbum, parece dizer : “Voltepara a terra Rodrigo, você ainda está no Brasil, o país de Nelson Cavaquinho!”
Rodrigo Campos: «Conversas comToshiro» -YB Music – (Ótimo! )